quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eleiçoes 2010 e Imaginários Políticos

A campanha deste segundo turno das eleições presidenciais no Brasil mostra com clareza uma ideia que já defendi em meu livro sobre a história política de Itajaí (Entre o Rio e o Mar da S&T Editores) lançado em abril deste ano. Em Itajaí, como em todo o Brasil, a ausência de partidos políticos com agendas programáticas e ideológicas definidas está produzindo uma campanha focada em discursos fortemente apelativos à ideias e sentimentos profundamente arraigados no que os historiadores chamam de "mentalidades coletivas" ou "imaginários sociais" da sociedade brasileira. A psicologia social e a antropologia simbólica estão servindo mais do que nunca ao marqueting políitico no sentido de persuadir o eleitor com símbolos culturais adormecidos há séculos no inconsiente coletivo do povo brasileiro. Nesta eleição, temos de um lado, o símbolo cristão do bem contra o mau, que chegou ao Brasil estampado nas caravelas de Cabral, representando o pai experiente, ordeiro, que procura harmonizar os conflitos dos filhos com sua força moral e capacidade de liderança; do outro, o símbolo edipiano da mãe protetora e defensora dos filhos contra a mão disciplinadora do pai. O poder patriarcal forjou a sociedade brasileira exterminou índios e escravizou negros em nome do progresso e da civilização. A mãe, índia e negra, deu à luz um povo mestiço, uma multidão de filhos bastardos, gerados na cumplicidade e aconchego da casa grande e lançados ao suplício da senzala. Temos diante nós, nesta campanha, uma disputa entre um símbolo religioso e outro edipiano, ambos de enorme poder persuasivo, porque se apóiam em mitos, objetivando formar opinião pública através de significados selecionados a partir de um repertório cultural coletivo, sem esclarecer sua origem social e histórica. O mito é uma linguagem composta por significados roubados de situações que dizem respeito ao espectador, mas das quais ele não tem consciência.
Neste início de século XXI estão ocorrendo dois fenômenos culturais em nível global: o fim das grandes ideologias politicas que nortearam os séculos XIX e XX: socialismo, liberalismo, social-democracia; e a secularização de símbolos religiosos. O poder simbólico que está sendo liberado dos símbolos religiosos tradicionais como "bem" e "mau" estão sendo atraídos pelos discursos políticos para preencherem os espaços deixados pelo esvaziamento das ideologias políticas. Por isso o debate dos dois candidatos à presidência neste segundo turno está sendo dominado por temas que tem aparência religiosa, mas que na realidade, estão apenas captando um movimento da mentalidade social brasileira e mundial contemporânea: a transmutação dos signos religiosos em discursos políticos.

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